Reflexões - Filosofadas da Yêda (2)

Os papéis que desempenhamos na vida – Café Tortoni – Buenos Aires – fevereiro/2011 Tenho o hábito de parar para refletir sobre tudo que leio.

Esse agora me levou de volta ao passado (como nos surpreende a nossa memória - traz de volta o que pensávamos estar apagado de nossa vida) - ele levou-me ao tempo em que retornei à faculdade para fazer o curso de Orientadora Educacional (não se espantem - 1972 - meu Deus, o tempo passa e só nos damos conta ao abrir a tampa do velho baú).

Na ocasião o prof. de Psicologia nos recomendou um livro que serviria para a nossa futura atividade e também para nossa própria vida: "Os papéis que desempenhamos na vida" (não me lembro o autor).

Nele são descritos todos os papéis que desempenhamos no decorrer de nossa existência (com acertos e erros) e que podemos atuar separada ou paralelamente, que podem fazer com que VIVER seja uma verdadeira experiência amorosa prazerosa ou um tormento.

Os papéis são: Pai/Filho Marido/Mulher Irmão/Irmão Amigo/Amigo Chefe/Empregado

Resumindo, diz que para todos os papéis é preciso que o envolvimento esteja na alma, mas que seja compartilhado com o parceiro, pois cada um, por suas vivências anteriores, desempenhou outros papéis em outros palcos e não sabe como foram as atuações passadas de quem está agora compartilhando o mesmo palco.

A vida é como um teatro, o tempo todo, só que não há ensaios, entramos em cena e já estamos representando para uma enorme platéia - também atores em suas vidas, além de espectadores muito críticos.

O livro mostra ainda que nos frustramos na vida, não porque os outros nos decepcionam, mas sim pelo grau de expectativas que temos em relação ao nosso companheiro de palco.

Vejam que um pouco acima falei de que na vida não temos ensaios, então nosso coadjuvante não conhece a nossa fala e, na maioria das vezes, esquecemos de dar a deixa para ele. Então aí, quando ele não faz o que esperávamos dele, nos frustramos e, neuroticamente, o culpamos por nossa decepção.

Pergunto: “Por que não deixamos transparecer nossas aspirações? Será medo ou vergonha de parecermos ridículos?”

Bobagem. Quem na vida já não foi várias vezes ridículo ou pecador?

Já dizia Jesus: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra", daí que não há nada demais em expor nossa faceta escondida.

Penso que a vida seria mais fácil se fôssemos mais transparentes.

Numa das passagens do livro, o autor descreve um fato de um jovem casal recém-casado.

- Era o aniversário da esposa; o marido saiu para o trabalho com o costumeiro beijinho e ela ficou planejando como seria o dia: o marido chegaria com um ramo de rosas vermelhas, um belo presente e sairiam para jantar fora. Só que ela não combinou nada com ele, nem demonstrou nada, queria surpresa.

Acontece que naquele dia o marido teve sérios problemas no trabalho e não se lembrou da data. Só queria chegar em casa e escutar sua mulher perguntar como foi o dia e ele poder desabafar com uma pessoa amada.

Vejam, duas pessoas com expectativas diferentes, jogando no outro a responsabilidade de realizar seus sonhos... "queremos ser compreendidos e não nos compreendemos, muito menos compreendemos o outro". É assim que muitos relacionamentos dão errado, não que não haja amor, mas porque sempre colocamos nas outras pessoas a obrigação de saber o que queremos, sem nenhuma demonstração de que em nós se passa.

Lembrem-se: as expectativas são nossas. Devemos conversar, deixar alguma pista, alguma deixa para o nosso companheiro de cena. Senão a vida será uma sucessão de frustrações em todos os palcos e esferas de nossa vida. Não adianta troca de elenco, nem de palco, se não formos abertos para o outro. Os fracassos e decepções continuarão pela vida a fora. Não vale culpar a vida, muito menos o destino. Julgamos-nos infelizes, achando que a culpa vem de fora, do outro que não nos compreende, que o mundo é cruel. Errado, nós é que não sabemos abrir nosso coração e nossa alma por medo, como já disse.

Temos o direito e, talvez o dever, de abrir a nossa cena para quem está atuando conosco. Não vale esconder o jogo.

Seria bom ver qual o papel que você quer desempenhar em seu próprio palco.

Yêda Saraiva é pedagoga e professora de História, Psicologia e Sociologia * Rio de Janeiro/RJ

Para ajudar nas filosofadas da Yêda, buscamos na Internet o possível autor do livro. Encontramos \"Os Papéis que Vivemos na Vida\", de Claude Steiner. Grandes chances, já que o autor aborda a análise transacional que usa muito o enfoque dos papéis.

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