Primeira pergunta: o que veio de fora, o que veio de dentro? Ou seja, o que a sociedade exigiu de mim e eu adotei e o que é, efetivamente, um desejo meu? Melhor ainda, onde os antagonismos entre meus desejos e os da sociedade? Talvez aí resida o problema, onde os antagonismos? Quem sabe seja bom perguntar onde é fora e onde é dentro?
Feitas as perguntas, dadas algumas respostas, seria interessante senti-las (as perguntas e as respostas). O intelecto talvez seja bom para criar tecnologia, mas não para tratar da integridade do indivíduo. As mudanças (internas) intelectuais são, na maioria das vezes, por demais demoradas. O sensório nos leva mais rapidamente lá (quando o intelecto não atrapalha). O ideal talvez seja uma boa integração entre os dois.
Curiosamente, eu sou a sociedade, uma de suas inúmeras partes. Onde dentro, onde fora?
O meu desejo é satisfazer-me. É o de toda a sociedade. Onde dentro, onde fora? A minha satisfação esbarra no desejo alheio. O que é básico para mim? Resumida e parcialmente: comida, bebida, agasalho, alegria, procriação. Tudo o mais é inventado e alterado? O básico sofre alterações através das invenções?
Para comer preciso achar e colher. São invenções: plantar, tomar (furtar de quem planta ou colhe), comprar, cozer, jogar fora o que não foi comido, mas poderia ter sido etc.
Para beber preciso achar a fonte e usar as mãos. São invenções: o copo, engarrafar, reservatórios, canos, torneira, filtros, comprar etc.
Para agasalhar-me preciso fazer o agasalho. Seria mesmo necessário ou o seu uso é que o fez necessário? São invenções: o tecido, tesouras, máquinas, fios, indústrias, lojas, moda, ferro de passar, tinturarias, comprar, pagar etc.
Para alegrar-me basta o estado de espírito e a satisfação. São invenções as festas, os ingressos, pagar etc.
Para obter afeto é preciso dar afeto, encontrar alguém disponível a dar-nos. Para procriar, e este é um imperativo de sobrevivência da espécie, é necessária uma pessoa de sexo oposto impelida igualmente pelo imperativo da espécie. São invenções: o casamento e toda a ilusão que ele carrega, a camisinha, o diafragma, a vasectomia, o aborto, pagar etc.
Seria simples se eu também não fosse, também, a sociedade e não gostasse de muitas de suas invenções, pois que eu invento também! Onde fora, onde dentro?