Viver com, repartir espaços. “O inferno são os outros”, como disse Sartre? Como entender e ser entendido por aqueles com quem compartilhamos a vida? Como contornar as situações sem engolir sapos?
Embora a comunicação tecnológica esteja evoluindo cada vez mais, as relações e a comunicação interpessoal continuam falhando. Conectamos através da internet pessoas em todas as partes do mundo, mas, com freqüência encontramos filhos, irmãos, companheiros que não se comunicam dentro da casa onde moram. Estão no computador, ou na TV, ou no telefone, ou não chegaram, ou já saíram, ou foram dormir.
Agem como se não tivessem nada mesmo para falar uns com os outros... O mais importante que são os sentimentos, não são expressos e como haver entendimento? Como um poderia entender o outro se não sabem honestamente o que sentem, um e outro? Algumas pessoas se distanciam ou se isolam porque, segundo elas, a aproximação gera conversa, que gera discussão, que gera desacordo, que leva ao conflito. Para não se aborrecerem emudecem e se afastam. Muitas vezes são pessoas que à noite vão dormir no mesmo quarto ou na mesma cama. Em alguns ambientes são travadas verdadeiras batalhas, pessoas se maltratam e se agridem muitas vezes por motivos insignificantes.
A dificuldade está no outro, esse, é o argumento. Por que não parar para refletir sobre a própria responsabilidade na dificuldade de conviver? Quantas vezes houve uma tentativa de negociação honesta e franca? Está havendo respeito recíproco? É possível dar mais um passo no processo de aproximação? Qual a disponibilidade para ser mais tolerante e flexível. A escuta e a expressão, estão sendo exercitadas e desenvolvidas, mesmo que incomodem? Os limites são dados e respeitados?
Justamente com os que estão mais próximos é que convivência se complica. Muitas vezes a vontade é de “chutar o balde”, “jogar tudo para o alto”, cortar os vínculos, e “partir para outra”.
É bom não esquecer que somos todos diferentes nas histórias pessoais: nossa maneira de pensar, de ser, de ver a vida, de sentir. Mesmo os filhos, os pais, os irmãos, são diferentes entre si. Seres humanos, imperfeitos que somos, esperamos a perfeição do outro com quem vivemos.
Nem sempre “partir para outra” é a melhor solução, já que devido às diferenças individuais, provavelmente estaremos correndo o risco de ter que encarar outras complicações em outras relações. E provavelmente estaríamos repetindo nossos padrões imperfeitos de comportamento.
Que despertem as consciências e que uma das metas mais importantes deste ano possa ser o empenho pessoal em promover a paz dentro de cada casa e que cada indivíduo possa executar a sua parte, procurando se melhorar. E que essa energia de paz possa se expandir além da casa, além do bairro, da cidade, do país, do planeta.