Deveríamos falar em prazer, ganho e assumir responsabilidades, coisas importantes para quem está se preparando para o vestibular, vou deixar para a próxima e falar dela: minha pré-vestibulanda preferida.
Acompanhei-a um tanto o quanto antes que ela se colocasse desesperada diante do bicho papão do vestibular. Ainda no ensino fundamental, o nosso primeiro contato não foi dos melhores. Aluna de escola pública, atendi a um pedido de sua mãe para algumas explicações.
A uma menina estressada causei novas sensações: deixei-a simplesmente irada. Só porque eu insistia em perguntar-lhe coisas do tipo: sabendo, pelo enunciado do problema, que é um triângulo retângulo, quanto vale a soma de seus dois ângulos agudos? Tem certeza que eles são agudos? Por que?
A mãe insistia: diz logo. Eu contestava: é preciso que ela saiba resolver não só esse exercício, mas todos.
A menina bufava. Não me adiantava argumentar: você precisa saber os fundamentos. A partir deles você resolver qualquer coisa. Ela inchava. Diante daquele, para ela, suplício, a mãe determinou: resolve logo!
Resolvi. Ao pedido de explicações usei a técnica de um certo anúncio de chinelos. A única coisa que se consegue entender do que o menino fala, é quando ele diz à artista que ela fica muito gostosa com aquelas sandálias. Notando o tom arroxeado das duas, tratei de me retirar de fininho.
A mãe, então, foi fazer o que cabia à filha. Rever os fundamentos, entender o porquê das equações, do seu desenvolvimento e, aí, dizer à filha como resolver aquele problema. Por sorte, caiu na prova um exercício semelhante. Diferia apenas pelos valores.
A menina fez o grau médio em colégios pagos tidos como bons preparadores. A bichinha comeu fogo, mas passou. Sem recorrer a mim, já que a mãe dela era bastante estudiosa.
No terceiro ano partiu para a maratona colégio/curso pré-vestibular. Ainda sem muito saber que curso fazer, foi enfrentando provas e sendo reprovada. Só passou para uma faculdade paga que aceitava a inscrição para o vestibular na hora do exame. Ela teve o bom senso de não querer saber de uma arapuca caça níqueis que engana aos que querem ser enganados.
No ano seguinte, ela descobriu afinal o seu interesse: arquitetura. Sem o colégio ela passou a ter mais tempo. Ao final desse ano, encontramo-nos de novo. Eu propusera ao curso em que ela estudava algo especial para seus alunos: trabalhar técnicas para a redução do estresse (um inimigo de muita gente boa que tem até bom conhecimento da matéria), técnicas para facilitar a memorização dos conteúdos e para maior eficiência na relação de aprendizagem.
Mais amadurecida e disposta a fazer alguns “sacrifícios”, ela aceitou as orientações. Seguiu-as mesmo de bom grado e ficou encantada com os resultados obtidos, mais ainda com principal deles: passou para a UFRJ. De quebra, dei-lhe algumas recomendações: não abandone as técnicas, elas servirão tanto para o seu curso como após; desde o primeiro dia procure saber sobre monitoria e iniciação científica.
Feliz da vida, agora no terceiro período, ela já está ganhando dinheiro com a profissão. Não exatamente como arquiteta, já que terá oito períodos na faculdade antes de se formar. Ano passado, solicitada pelos próprios colegas, ela deu aulas particulares sobre uma matéria que costuma ser um bicho papão. Nesse ano, os ganhos financeiros já estão assegurados com a monitoria, agora oficializada. Certamente que aulas particulares acontecerão também.
Além do conceito, alto, que goza com alguns professores, ela está com CR (grau obtido pela média das avaliações de todas as matérias feitas pelo aluno) 8,3. A exigência do CNPQ para bolsa de iniciação científica é oito. As portas estão abertas. Como ela conseguiu? Investimento, prazer, ganho e assumir responsabilidades. São coisas da qual já falamos e que podem ser usadas por quem queira. Você quer? Então, aplique!