Um assunto que me passeava pela cabeça fez-me pensar em deixar o emagrecimento de lado. Um papo me trouxe de volta ao tema. Fez mais, ligou os dois: emagrecimento x desespero.
Eu dava notícias de uma pessoa que atingira a marca de 137 kg. Obesidade mórbida. À observação de que a pessoa deveria partir para uma operação, argumentei: é trocar uma droga por uma porcaria
A contestação imediata foi uma relação de pessoas operadas, felizes e satisfeitas.
Contra-argumentei, uma parcela de sua lista deve estar aparentemente feliz e satisfeita.
Na minha prática profissional esse quadro é comum. Os psicólogos não são procurados, apenas por pessoas que, declaradamente, sentem-se infelizes e que, até então, não encontraram um meio de superar seu sofrimento. Pessoas que disfarçam o que sentem por trás de gargalhadas e faces (aparentemente) felizes representam um número considerável em nossos consultórios.
A superficialidade e o medo das relações, que contribui para torná-las superficiais, são responsáveis por boa parte da infelicidade compartilhada pela humanidade. O desespero que nos cerca é um capítulo à parte. Ele, ao mesmo tempo em que resulta da infelicidade, a alimenta. Essa ligação infelicidade-desespero-obesidade-infelicidade-desespero ... é comum. Não é a única, mas é comum.
No papo que prosseguiu, perguntei por comportamentos, por satisfação de outros desejos. Por baixo da ponta do iceberg surgiu o relato de insatisfações e até mesmo o comentário: fiz tanto e por nada.
O comportamento humano é algo complexo. Em particular porque não procuramos simplificá-lo.
Sentimentos ligam-se a comportamentos. Estes podem ser tranqüilamente estudados racionalmente, mas a sua mudança pelo raciocínio não é tão simples ou imediata. Básico: o raciocínio é, apenas, parte de um todo, depende da importância e do nível de abrangência que damos a ele. Muita gente não percebe isso ou raciocina como se os mesmos pesos e valores que se atribui sejam atribuídos pelas outras pessoas. Uma outra variação sobre o tema é achar que suas atribuições sejam melhores do que de todas as das outras pessoas. Até aí tudo bem, a complicação fica por conta de exigir que as outras pessoas façam a melhor escolha. Logicamente: A SUA! Cada um de nós agindo assim resulta no caos que é o relacionamento humano.
Afinal, o que concorre para que nos julguemos os únicos e absolutos donos da verdade? Muitas coisas. MEDO, é um exemplo. Somos amedrontados o tempo todo. Encontramos pessoas medrosas e desesperadas dispostas a nos passar seus medos e desesperos. Dependendo de nossa estrutura, dos sustos e do grau de medo e desespero com o qual temos contato na vida, nos tornamos também medrosos e desesperados. Quem sabe, novos propagadores do medo e do desespero.
O medo, dependendo de cada pessoa, acarreta reações diferentes. Uns se encolhem, se abatem, se anulam. Outros gritam, procuram fazer-se maior do que são na esperança de que passem o seu medo para o outro e consigam ficar livre dele. Estas são posições extremas, entre elas temos uma variedade que incluem a conjugação dos dois comportamentos.
A atenção é um foco. Da maneira como a usamos podemos fazer ligações indevidas, como algumas que fazemos em relação a medos e desesperos, e acabarmos por seguir caminhos que nos levam a becos. Muitos sem saída. A obesidade é, em muitas vezes, mas não todas, fruto do uso inadequado da atenção.
ATENÇÃO! Coloque toda sua atenção sobre o seguinte: AMEDRONTAR UMA PESSOA É UMA FORMA DE TORNÁ-LA FRÁGIL E, ASSIM, PODER MANIPULÁ-LA, FAZÊ-LA ATENDER À VONTADE DO MANIPULADOR.
Para poder parar hoje por aqui vamos lembrar um detalhe sobre relações. Elas podem ser analisadas sob a forma de jogos, de suas estratégias de perde-ganha. Muitas delas se aparentam ser estratégias de perda e o são, em relação a determinados aspectos. Em relação a outros representam ganhos. Perdem-se os anéis, mas não se perdem os dedos. Perde-se a liberdade, mas se ganha a presença do aprisionador... E por aí vai.