Apesar de toda negociação, não consegui ficar no João Alfredo, onde fiz meu primeiro ginasial. Meu pai resolvera sair de Copacabana para a Ilha do Governador. Seu trajeto diário ao posto de saúde que dirigia ficara-lhe muito cansativo quando somado a todos os outros deslocamentos que fazia ao longo do dia. Ele tinha o hábito de ser o primeiro a chegar.
O prazer de estar em meu colégio, entretanto, fazia-me achar a distância pequena. Ter que pegar dois ônibus também não se constituía dificuldade. A mudança de semi-internato para externato passou a ser argumento contra mim. Voto completamente vencido, não me restava nada mais do que ser aluno do Mendes de Moraes, para onde fui transferido.
Alguns dos novos companheiros eu já conhecia. A Ana Luiza, filha da Lourdes, enfermeira no posto de saúde, e que morava no mesmo bairro, o Jardim Guanabara, para o qual nos mudáramos tão logo entrei de férias. Antes do início das aulas conheci o Paulo Roberto. Uma amizade nasceu rapidamente. Como comentavam conosco de nossa semelhança física, por essas coisas doidas que fazem adolescentes, resolvemos tirar uma onda no colégio. Combinamos que seríamos irmãos. Por parte de mãe, para justificarmos, assim, nossos diferentes nomes. Acho que ele era um ano mais velho do que eu. Mais parrudo também. Nem pensei na Ana Luiza (turma 21), que me conhecia bem e sabia que tal papo era um tremendo 171.
Coincidentemente Paulo e eu éramos da turma 22. Nem sei mais se alguém ainda se lembra disso, mesmo porque acho que o Paulo mudou-se da Ilha do Governador logo no início do ano e acabou deixando o Mendes. Não me lembro muito bem, só que o Paulo desapareceu dessa história. Acabei indo para a turma 21 porque a turma 22, que recebera todos os transferidos, ficara cheia demais.
Primeiro dia de aula. Paulo e eu saímos juntos para o colégio. Aprendi que, ao invés de pegar o lotação, podíamos pegar um ônibus até a entrada do Jardim Guanabara e, de lá, outro que nos deixava na Freguesia. Essa operação, além de nos fazer ganhar alguns minutos, era mais econômica, já que as linhas de ônibus forneciam passes livres para os alunos do Mendes de Moraes e o lotação não. Não fiquei rico, mas sempre dispunha de dinheiro, que me era dado para a condução e eu guardava para os usos adequados e necessários.
Aprendizado feito, chegamos ao Mendes de Moraes. Um pedaço do muro do colégio, caído nas férias, estava para ser reconstruído. Parte do material estava próxima ao rombo. Areia e brita. Sobre a areia duas velas. Tinham sido, por gozação, transferidas da macumba da encruzilhada e acesas. Entre avistarmos e chegarmos perto, falamos sobre religiosidade e medos. Para provar que eu não tinha nenhum, propus-me e chutei as velas que se apagaram.
Tendo atrapalhado a gozação e sendo uma cara nova no colégio é claro que teriam que tirar satisfações comigo. Desceram Carlinhos e Vicente (coincidentemente, turma 21). Não sei, nem perguntei depois, o que disse o Paulo para o Carlinhos (teria sido: ele é meu irmão), pois ele se afastou logo. O Vicente continuou insistindo e ali comecei uma série de brigas que se repetiriam até o ano seguinte (com personagens diferentes).