Chegou-me um comentário muito interessante: “Não é necessário apoio psicológico para quem precisa emagrecer. Muita gente tem problema e nem por isso engorda. Há muita gente sem problema que engorda.”.
Não sei se foi assim mesmo que a pessoa falou, afinal, não a ouvi. Contaram-me.
Concordo que um psicólogo seja muitas vezes dispensável. Carteiros, médicos, dentistas, motoristas, padeiros e uma relação bem extensa de profissionais, em certa medida, também o são.
Na minha prática clínica escolhi trabalhar tornando-me, o mais rapidamente possível, desnecessário para meus pacientes. Alguns deles acham até que eu poderia levar um pouco mais de tempo, mas isso vai depender de que tipos de contratos eles fazem consigo. É isso mesmo, com eles próprios, não comigo. A questão dos contratos, aliás, é uma coisa muito interessante de se examinar.
Se, por um lado, devam-se dispensar os psicólogos, por outro devemos nos lembrar que comportamento é objeto de estudo da Psicologia. Compulsividade é um comportamento muito comum aos que têm a questão do peso corporal como um de seus problemas. Compulsão (e obsessão) está profundamente estudada pela Psicologia, que sugere uma série de medidas para o seu tratamento.
É bom lembrar que nem todo compulsivo é obeso. Um mesmo comportamento observado pode ter causas distintas. Assim como determinadas questões ocasionam, por quem as tenha, diferentes escolhas comportamentais. Conscientes ou inconscientes. Nem toda pessoa que tenha um específico problema resolve comer e comer. Poderá ser beber e beber. Como poderá ter um outro esquema compensatório diferente desses dois por nós citados.
A obesidade não é o resultado de uma única causa. Portanto não basta fazer uma única coisa para resolvê-la. Também não tem mágica, como querem fazer crer os que querem vender soluções únicas. Alguns mais espertos costumam dizer “o nosso produto vai resolver para você, que deverá também procurar fazer isso e aquilo”.
Tempo e momento são variáveis que precisamos levar em consideração. Como em qualquer outra coisa. Quantas vezes algo caiu da sua mão e você preferiu pegar mais tarde ou porque sabia onde estava e nesse momento você não estava a fim de ir lá pegar? Quantas vezes o não pegar foi exatamente por não saber onde caiu e você tinha pressa de ir em frente? Quantas vezes você preferiu deixar ou mesmo pediu para que pegassem para você? Quantas vezes você se abaixou imediatamente agradecendo e dizendo não ser preciso para quem se prontificou a pegar por você?
Pense um pouco a respeito dessas questões. Existem muitas semelhanças comportamentais e motivacionais com a questão do emagrecimento. Por menos que pareça ou por menos que se queira ver.