Sobre os atuais tempos internáuticos existem adeptos de duas correntes. A primeira delas afirma que os computadores estão reduzindo o relacionamento entre as pessoas, pois o contato cada vez maior com a máquina faz seus usuários se afastarem do convívio humano. A segunda considera que está acontecendo exatamente o contrário. Na medida em que a violência das grandes cidades vem tornando as pessoas prisioneiras em sua própria casa, a Internet, em substituição ao telefone, tem permitido que as pessoas se relacionem com as pessoas totalmente desconhecidas num bate-papo onde os grupos têm uma quantidade de interlocutores muito maior do que seria possível numa reunião não virtual tornando a troca muito mais rica.
Daí vão rolando uma série de outras ponderações:
__ É, mas as pessoas escondidas atrás de suas máquinas deixam de ser verdadeiras, pois, sem o olho no olho, elas podem inventar qualquer coisa a respeito de si.
__ Ora, como se as pessoas, no seu contato com outras, não se escondessem atrás de suas máscaras. A questão não está nas máquinas, mas no íntimo dos seres humanos.
Possivelmente os dois grupos de críticos tenham lá suas razões. Afinal, após milênios de civilização, o que mudou nos seres humanos? Além da tecnologia, a aparência, pois o essencial está o mesmo. Ódio, inveja, ciúme, cobiça, vingança, solidão e tantos outros sentimentos e comportamentos são descritos pelo teatro grego e pela literatura de inúmeros povos ao longo dos séculos como se estivessem acontecendo aqui e agora. Nessa nossa referência falamos de mais ou menos 3.000 anos. A idade da civilização e desses mesmos fenômenos vai além disso!
Há quem considere que privilegiar outra família de sentimentos e procedimentos como amor, tolerância, respeito, solidariedade etc, seja evoluir. Mesmo que se discorde de tal definição, certamente há que se considerar que são amenizados os conflitos nos relacionamentos das pessoas com outras e consigo mesmas na medida em que esse segundo grupo de sentimentos e comportamentos são adotados.
Como fazer para crescer essa saudável adoção? Como se processará a transformação das pessoas?
Tem sido comum pessoas, fora do computador e em torno de livros, se reunirem em chamados grupos de estudo. A estrutura deles é variável e depende, em parte, da(s) pessoa(s) que resolvem montá-los e, em parte, do próprio grupo. Não é necessário ser psicólogo para perceber que pessoas, agindo isoladamente, têm um tipo de comportamento enquanto que, reunidas em grupo, têm outro. Além do perceber, os psicólogos, apenas, costumeiramente, estudam isso.
Os grupos de estudo, ou seus iniciadores, escolhem um livro habitualmente ligado à transformação, substituição ou qualquer outro termo que signifique privilegiar o nosso citado segundo conjunto de sentimentos e comportamentos em detrimento do primeiro. Uma mecânica bem simples que pode ser utilizada é a de que cada participante leia alguns trechos. Na medida em que se sintam motivados, os participantes, espontaneamente, discutirão as idéias apresentadas pelo livro (durante ou após cada trecho, o grupo define a dinâmica, quanto mais espontânea, melhor).
Os encontros podem ser feitos somente na casa de um dos integrantes ou pode ser itinerante. É mais comum a primeira opção. Pode ser também fora das casas e num local adequado escolhido para tal como a sala de uma escola ou qualquer outro que permita manter a privacidade do grupo.
Na dependência desse texto para ser colocado no ar, o boletim me obriga a deixar para depois outras observações. Só para encerrar, algumas perguntinhas. Você participa de algum grupo de estudo? Acha interessante participar de algum? Gostaria de dar ou receber idéias sobre livros interessantes? Disponha, o site é seu.