Tempos de Colégio (4)

Da Ivonete Aurichio, que chegou ao Mendes de Moraes em 1957 e saiu em 1963 depois de fazer, completos, o 1º e o 2º grau, recebo o seguinte recado: que tal escrevermos um artigo sobre a nossa merenda?



Sanduíches feitos com pães franceses, bem fresquinhos, servidos no cestão no início da escada (descíamos por turmas em fila indiana) com recheios variados que eram preparados pelas merendeiras Sebastiana e a outra senhora da qual não me lembro o nome.



E eram com mortadela, queijo Minas, queijo prato (raramente), patê de presunto (quase sempre), goiabada, salsicha (arremedo de cachorro quente) e, às vezes, com sardinha. Este último era o meu preferido, pois já naquele tempo eu não gostava muito de carnes vermelhas...



Quando a fome era menor que o sanduíche, acabávamos deixando parte dele no buraco do muro. Até o dia de ouvirmos o sermão da diretora Maria Amélia, falando dos pobres da Ilha (os precursores da Favela do Dendê e outras), que recebiam as sobras do nosso merendão, desde que os pães estivessem intactos e que era uma falta de consciência jogarmos fora o pão que muitas vezes seria a única refeição de alguém do morro. Aquilo me calou fundo e nunca mais eu desperdicei a merenda e nenhum outro alimento... Para falar a verdade, me tocou mais do que a Fome Zero.

Ah, quem tinha dinheiro (uma raridade entre nós) comprava Coca-Cola e pão doce, de coco ou canela, no ciclista (na verdade triciclista, já que era um triciclo), que estacionava na hora do recreio junto ao muro. Lembra? A Coca-Cola geralmente era compartilhada no gargalo, sem preocupações de bactérias e essas coisas de adultos...

Eu - para falar a verdade - também naquele tempo preferia guaraná (e ainda não existia o natural, nem as opções naturebas de açaí, etc.) mas o vendedor só tinha Coca-Cola, que era o "chic" tomar. Às vezes aparecia um Crush ou um Grapette também, mas a cabeça da turma era direcionada mesmo para a Coca-Cola.

Como você vê, se juntar a lembrança de cada um, dará para escrever um livro, ao invés de um artigo.




Não tenho tantas lembranças da merenda servida na escola. Não me lembro de beber, a não ser água. Em termos de refrigerante eu era mais do guaraná, o champagne ou o caçula. De comer só tenha guardado o sabor do tal pão com patê e que nunca fui um usuário do buraco do muro.

Curioso, lembro-me mais do primeiro ginásio, antes de ser transferido para o Mendes, no João Alfredo, então semi-internato. Almoçávamos e lanchávamos. Do lanche lembro-me sempre do mate, do pão com manteiga. Do almoço, que era gostoso, farto e variado.

Lembro-me até do lanche na escola primária, dos mingaus, alguns gostosos, outros tétricos, do pão com banana, do pão com doce de leite. Ah, esse então eu adorava. Principalmente por me reportar, a antes que eu começasse a estudar, aos doces de leite da minha avó e da Carlinda, os queijos do Joaquim, marido da Carlinda. Lembro-me, ainda do primário, da canjica, de tantas que comi e de uma que coincidiu com um passar mal. Acho que só adolescente voltei a comer delas, tão somente porque um dia achei que devia parar com aquela frescura, do estômago embrulhar só no cheiro. A primeira desceu mal, a segunda mais ou menos, mas na terceira eu já a saboreava como nos prazeres de antigamente. Aprendia, por meu aprender, as máximas de D Juan.

Do recreio do Mendes, falando ainda de comeres, lembro-me da bala de leite que, acho já comentei, o Vicente e eu vendíamos, dentro do Mendes, para um menino que ficava do lado de fora de nossos muros. Como aquela não comi nunca mais, apesar das muitas, de cara parecida, que experimentei. Dos sanduíches que minha mãe começou a preparar, das gozações que levei no início e das adesões que se seguiram depois de minha persistência e pouca importância que dei aos gozadores. Era como se eles não existissem. Acho que alguns deles aderiram. Possivelmente aí mais aprendi sobre D Juan, mas, dessa vez, ajudado por meus pais.

De tanto falar em comer, acabo de me lembrar que me deixaram uns brioches integrais de ameixa para guardar assim que esfriassem. Acho que já estão até gelados. Vocês vão me dar licença.

Jaime as suas lembranças ficam para a próxima, espero que até lá você já tenha achado o prospecto do GT.

MOACYR WALDECK é ex-aluno do Colegio Estadual Prefeito Mendes de Moraes (1957: 2º gin/1960:1ºcient)- mowaldeck@yahoo.com.br (veja mais)

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